Nos últimos dez anos, as capitais brasileiras vêm perdendo
participação no total da economia do país, ao mesmo tempo em que municípios
menores apresentam ganhos de renda. A informação faz parte da pesquisa Produto
Interno Bruto (PIB) dos Municípios, divulgada nesta quarta-feira (12) pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento é referente a 2010, quando o PIB cresceu 7,5%
em relação ao ano anterior, tendo alcançado um valor de R$ 3,770 trilhões.
Foram analisados todos os 5.565 municípios do país. A pesquisadora do IBGE
Sheila Zani, responsável pela pesquisa, disse que existe um movimento de
mudança na produção de riquezas, que é lento e se faz notar em um período maior
de tempo.
“Este ano de 2010 foi quando as capitais geraram menos
renda. Quando a gente põe a série de 1999 até agora, as capitais geravam 38,7%.
Este número vem caindo e em 2010 chegou a 34%. Quando se separa o valor gerado
nas capitais entre indústria e serviço, nota-se que a queda é maior na
indústria. Isso é consequência dos incentivos fiscais, que levam as empresas a
sair das capitais, e das commodities [produtos primários com cotação internacional],
tanto as agrícolas quanto as minerais, que não estão nas capitais.”
No sentido oposto, estão os pequenos municípios, que nos
últimos dez anos aumentaram o volume de riqueza, em comparação ao PIB nacional.
Eles se concentram nas regiões Norte e Nordeste, principalmente no Piauí,
Tocantins, na Paraíba e no Rio Grande do Norte.
“Em 2010, juntando 24%, teria 1% do PIB. Em 1999, para ter
1% do PIB, precisava de 25% dos municípios. De lá para cá, esses municípios
ficaram mais gordinhos, eu preciso de menos municípios para ter 1% do PIB. Os
pequenos estão ficando maiores um pouquinho, deixando de ser tão pequenos, seja
pelos programas de transferência de renda do governo, seja pelos incentivos
fiscais, seja até pela influência das commodities de um município grande que
acaba afetando um município vizinho.”
Zani salientou que o país ainda é muito dependente dos
produtos primários de exportação, principalmente minerais e agrícolas, o que
pode levar a um distorção entre diferentes municípios. “O que mostramos é o
quanto a economia brasileira estava dependendo dos preços das commodities. Em
2010, o preço do minério de ferro estava muito alto, até mais do que o
petróleo. Então, esses municípios [com produção mineral] tiveram muita
participação na geração do PIB do país por conta do preço do minério de ferro.”
Se para o minério de ferro, o mercado estava promissor, o
mesmo não aconteceu com a soja. “A economia brasileira é focada no preço das
commodities, para o bem ou para o mal. Por exemplo, 2010 não foi um ano bom
para a soja, o preço estava muito baixo. Municípios que são grandes produtores
de soja perderam participação por conta exatamente dos preços. Aí influencia
municípios que não são produtores, mas que têm na soja o insumo da cadeia de
produção.”
Por outro lado, municípios que apostaram na produção de
cana-de-açúcar, café e frutas foram bem-sucedidos. “A variação do preço da
cana-de-açúcar cresceu 10,8%. O café cresceu 20% em quantidade e 13% em preço.
Em Minas Gerais ele é bianual, e 2010 foi ano de colheita. O do Espírito Santo
colhe quase todo ano. O preço da laranja estava muito bom. Os municípios
plantadores dessas culturas tiveram um ganho muito grande”, explicou.
De acordo com a pesquisadora, os baixos preços de soja
colocaram Petrolina, município pernambucano situado às margens do Rio São
Francisco e grande produtor de fruticultura irrigada, em situação especial no
crescimento de renda. “O município foi o maior produtor de uva, manga e goiaba
em 2010, com preço bem alto. Por isso, Petrolina foi o segundo lugar com maior
valor adicionado da agropecuária no país, que antes era um posto ocupado pelos
produtores de soja.”
Fonte: Agência Brasil
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